MUITO ALÉM DO JARDIM (2)
- José Dalai Rocha
- 5 de jun.
- 4 min de leitura
Outra vez, emerge a referência ao clássico do cinema, estrelado por Peter Sellers. As coincidências filosóficas não param apesar das diferenças de manejo do solo.
Forçando um pouco, em alguns traços, o ator até se parece com o treinador.
Nesta folga do Brasileiro, que a tabela confere aos Clubes, alarga-se o tempo de reflexão e nós, cruzeirenses, ainda assustados ante a nova realidade. Tá acontecendo, mesmo? Não faz muito tempo, a luta era pra sair da Série B. Três anos submersos. De volta à elite, a felicidade era simples: permanência na primeira página da classificação. Ficar fora do Z-4 era o lucro.
Alguns acertos, muitas cabeçadas, a Nação Azul aguentando firme no enfrentamento de chuvas e trovoadas e, de repente, sem que ninguém pudesse prever, abre-se um céu de brigadeiro.
Como aquele bruxo misterioso mexendo num caldeirão, misturando porções estranhas, a gente via Leo Jardim à beira do campo. Expressões impenetráveis. Olhar distante. No início, jurava que a cabeça dele estava mais fincada no terroir de suas vinícolas que no desempenho de nosso meio de campo.
Foi quando, antes dessa maratona de jogos decisivos que tanto nos podiam levar ao céu quanto ao inferno, pré copa do mundo de clubes, cravei aqui: ao final da maratona saberíamos quem era de fato esta incógnita chamada Leonardo Jardim. Ou estaríamos pra frente, rompendo barreiras, ou seria o momento de mais um treinador pedir o chapéu. A parada era torta, incluindo em sucessão Flamengo e Palmeiras. Era vai ou racha. Tudo ou nada.
E aconteceu! O Cruzeiro venceu o líder e o vice-líder! É hoje admitido – sem contestação – como um dos três melhores times do Brasileiro. Pra muitos, é o melhor.
Bendita impassividade de Leo Jardim! Bendita cara impenetrável de agente funerário em férias. Sufocando emoções, preparando nós táticos, abreviando o sonhado reencontro do Cruzeiro com a sua grandeza.
Vinhedos são os gramados. E vice-versa.

BATE PAPO NO QUINTAL
1. Alejandro não suportou o “day after”. O amasso inesperado do Cruzeiro no Palmeiras, desbancando o líder, foi demais para o sofrido coração atleticano. Desorientado, cachorro caído de caminhão de mudança, Alejandro apelou para o “jabuti na árvore”, metáfora recorrente pra se explicar o inexplicável, ou seja, a vice-liderança do Cruzeiro…
Que feio, Alejandro! Seu time caindo pelas tabelas, beirando o Z-4, sentindo que a única evolução lá pelas bandas de Vespasiano é da dívida e você tentando desidratar as façanhas azuis, vencendo aqui o Flamengo e o Palmeiras. Se ainda acha pouco, aguarde que vem mais. Sugestão de passatempo pra você: acompanhe a “recuperação” do gramado sintético da Arena Meu Rival Venceu. Inaugurado há menos de um mês, já reclama reparos. Você entende? Onde é que está mesmo esse jabuti?
2. O Universo conspira! – O “day after” atleticano durou mesmo só na manhã de segunda e princípio da tarde. Estava difícil engolir o atropelamento do Palmeiras no Mineirão. A bancada atleticana fazia o que vem fazendo há algum tempo: requentar os vexames azuis contra o Sousa e o Muschuc. Essa catarse durou até a hora do sorteio das oitavas de final da Copa do Brasil. No terceiro duelo sorteado, a presença do Universo colorindo as teias do destino: Atlético x Flamengo!
Falando agora em Vexame assim, com V maiúsculo, lembra da decisão no ano passado? Primeiro título nacional disputado na Arena MRV? 4 x 1, no agregado. O Atlético não soube perder nem no campo, nas catracas, nas arquibancadas e no entorno do estádio. Há processos de tentativa de homicídio em andamento. Quebradeira geral.
Ali a gente pensava que era o fim do poço. Mas ainda haveria Buenos Aires.
No sorteio da Copa do Brasil, os fados decidiram dar chance ao Atlético de atenuar a mancha da primeira vergonha. Não será decisão do título, como foi ano passado. Será eliminatória. Mata-mata. Primeiro jogo no Maracanã e segundo na Arena Meu Rival Venceu.
O desafio do Atlético será um aprendizado: aprender a vencer, ou pelo menos, aprender a perder, sem passar vergonha.
3. João de Deus Filho em crise de sincericídio:
“… Mas não sou cego e não tem como negar que o time azul tá jogando bem. Assim como não nego que o Atlético passa por problemas, tanto dentro como fora de campo.”
Parabéns, João. Não por acaso, nosso primeiro detentor do troféu “Guru da Racionalidade.”
Mas se prepare, porque a tendência é piorar. A lua de mel dos ex-fantásticos “4-Rs” acabou e agora chega o temido choque com a realidade. A sujeirada administrativa, os “remendos”, as “forçadas de contabilidade” tudo isto vai formando uma massa de rejeitos que não flui. Encosta, engrossa, torna-se indisfarçável até comprometer o fluxo.
Aí, entope.
4. O silêncio de ouro – Não é mera coincidência a boa fase do Cruzeiro com a boca fechada de Pedrinho BH. E a elogiável discrição de seu filho, o jovem Pedro Junio. Que continuem assim, só trabalhando, pra felicidade da Nação Azul.
5. Uma semana – É o prazo que Cruzeiro tem para o último jogo antes da paralisação dos campeonatos em razão da Copa do Mundos de Clubes. Os treinos recomeçam hoje. Na próxima quinta-feira, dia 12, às 19h, vamos encarar o Vitória, no Barradão, em Salvador. Vencendo, assumimos a liderança provisória do campeonato brasileiro já que Flamengo e Palmeiras terão os jogos adiados.
GARIMPO
“Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração.”
(James Clarke)
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